De André Toral
104 páginas
Veneta | 2020
Lançamento da editora Veneta, A Alma que Caiu do Corpo tem um tom tipicamente brasileiro. André Toral volta à colonização do país para abordar a relação entre indígenas e europeus. Não é nenhuma novidade como o contato com o homem branco foi cruel para as populações indígenas que habitavam o Brasil. Toral, no entanto, não se prende somente ao passado, mas traz histórias diferentes a cada capítulo, como em uma linha cronológica, que chega a tempos modernos.
Usando embasamento documental e um preciosismo histórico nas ilustrações, o quadrinista é cuidadoso ao trazer um protagonismo diverso, colocando os indígenas como sujeitos de suas histórias. Isso enriquece a trama e nos traz um olhar bem diferente do tradicional, quando normalmente vemos a ótica do colonizador e não do colonizado. A escravidão indígena, a religião, os costumes e a convivência, enquanto o Brasil se formava como país, são temas pelos quais André Toral passa ao longo das nove histórias que compõem a HQ.
Destaque para os diálogos que, apesar de serem ambientados muitas vezes nos idos dos séculos XVI e XVII, são bastante naturais. É como se esses personagens fossem deslocados para o Brasil atual algumas vezes. Embora possa causar um estranhamento inicial, essa foi uma escolha que nos pareceu interessante para dar fluência aos diálogos da HQ e até um tom bem-humorado em alguns momentos.
A Alma que Caiu do corpo é um belo compilado que nos ensinou e nos colocou para refletir a questão indígena que segue (agora ainda mais) sendo invisibilizada em um país que foi tirado deles. Mas nesta HQ eles dão o troco, eles são reais, eles mostram a resistência de um golpe de borduna.