De David M. Booher, Zoe Thorogood e Chris O’Halloran (Adaptando um conto de Joe Hill)
152 páginas
Devir | 2023
Tradução: Giovana Bomentre
Adaptado de um conto de Joe Hill, Rain é uma aventura pós-apocalíptica melancólica, em um mundo devastado repentinamente. Foi uma chuva que mudou tudo. Mas não era uma chuva comum, em vez de água, caíam do céu agulhas de cristal. A jovem Honeysuckle Speck testemunhou tudo com seus próprios olhos, no dia em que sua namorada, Yolanda, passaria a morar com ela. As agulhas não eram inofensivas, nada foi como antes depois da tempestade.
Em sua adaptação, David M. Booher mantém a narração de Honeysuckle como algo essencial. Sentimos seu medo, sua revolta, a angústia de enfrentar essa nova realidade. O luto é um tema central em Rain, em reflexões ora bem diretas, ora diluídas nos acontecimentos. Com uma virada nos rumos da trama, logo nas primeiras páginas, é difícil dizer muito sobre o desenvolvimento da HQ, apenas que a protagonista encara de frente os desafios que insistem em aparecer em seu caminho.
O roteiro apresenta as características de histórias sobre mundo destruído, ao passo que faz referências a questões políticas atuais e à própria relação de Honeysuckle com sua sexualidade, sobre como ser lésbica moldou o seu olhar e suas reações diante do desconhecido. Ao longo de cem páginas, o quadrinho caminha em bom ritmo, com foco nas questões psicológicas. Porém, as últimas vinte páginas parecem aceleradas, com um desfecho que soa pouco convincente. A explicação para a origem da chuva de agulhas fica aquém de tudo aquilo que a HQ havia apresentado.
A arte de Zoe Thorogood é perfeita para retratar as mazelas após a tragédia. Seu traço expressivo oscila entre cenas que abraçam o gore, até a leveza em flashbacks, aliado às cores de Chris O’Halloran. Mesmo com cenas de ação em que os movimentos parecem mais “duros”, a artista entrega ótimos quadros de ambientação e cenas de página dupla impressionantes.
Lançado no Brasil pela Devir, Rain não é o tipo de quadrinho que se perde em clichês pós-apocalípticos. A abordagem segue um caminho mais intimista e nos dá espaço suficiente para uma conexão com a protagonista. É uma leitura agradável, que nos conquista pela maneira como lida com temas como luto e amadurecimento, apesar do final abrupto.