De Léa Murawiec
208 páginas
Comix Zone | 2023
Tradução: Fernando Paz
A vida de Manel Naher muda completamente quando ela descobre que existe uma cantora em vertiginosa ascensão, com o mesmo nome que ela. É que no mundo em que a protagonista de O Grande Vazio vive, a Presença é o termômetro para sua saúde. Quanto mais as pessoas pensam em alguém, mais Presença esse alguém tem. Ou seja, se as atenções estão voltadas para a xará famosa de Manel, ela corre sério risco de vida. Em sua primeira obra de fôlego, Léa Murawiec nos apresenta a uma realidade assustadora, porém não tão distante. Naquele mundo e no nosso, ser lembrado é crucial.
A autora francesa constrói uma trama propositalmente acelerada, em que o leitor passa alucinadamente as páginas, às vezes cobertas de nomes por todos os lados, em placas coloridas. Os nomes precisam estar em evidência, como parte da paisagem urbana, porque são um lembrete contra o esquecimento. Em oposição a isso está o Grande Vazio, para onde Manel planejava fugir, ao lado de seu amigo, Ali. Não se sabe como esse lugar é, mas ninguém jamais voltou de lá.
Além de uma história que prende a atenção do leitor, desde o primeiro momento, O Grande Vazio tem uma construção de universo impressionante, mas ao mesmo tempo muito direta. São muitos os paralelos possíveis com a cultura de exposição nas redes sociais, com os fenômenos de fama repentina, ou até mesmo com as exigências de uma vida sociável. É tudo claro, sem deixar de ser autêntico.
A arte de Murawiec é cheia de formas alongadas, dos membros que se estendem com os movimentos aos arranha-céus. Ela transita das linhas mais espessas às mais finas, de acordo com a necessidade, o que funciona também para as expressões dos personagens, ora muito simples, ora complexas. Seus traços são dinâmicos e evidentemente influenciados pela narrativa dos mangás.
Lançado pela Comix Zone, O Grande Vazio pode te deixar com algumas perguntas, no lugar de respostas. E, neste caso, isso nos parece ótimo. Afinal, é sempre uma experiência impactante terminar uma obra que permanece dias conosco. É esse efeito que Léa Murawiec consegue, com seu mundo obcecado pelo reconhecimento do outro.