De François Boucq e Jerome Charyn
128 páginas
Comix Zone | 2020
Tradução: Thiago Ferreira
Boca do Diabo, de François Boucq e Jerome Charyn, nos conquistou logo na capa. A imagem do protagonista, com seu olhar marcante e os lábios leporinos, convida o leitor a abrir logo a HQ e conhecer Yuri. Na história, o jovem ucraniano sem passado é treinado em um orfanato para se tornar um agente da KGB. Após anos de aprendizado no serviço secreto, ele é enviado aos Estados Unidos, com o nome Billy Budd, para finalmente trabalhar como espião.
No primeiro terço da trama, fomos imediatamente envolvidos pela forma como Charyn vai inserindo elementos na história. A Guerra Fria, a dureza do regime soviético e todo o tom místico que envolve o protagonista funcionam muito bem. Já nos Estados Unidos, vemos Billy maduro, cumprindo sua missão e paralelamente trabalhando na construção de um arranha-céu, ao lado de nativos norte-americanos.
Embora a história parecesse ganhar peso, o terço final do roteiro nos soou um pouco apressado, usando artifícios como Deus ex machina e um exagero do misticismo, até então bem colocado e desenvolvido. Mesmo com esses detalhes que não poderíamos deixar de pontuar, Boca do Diabo consegue construir um clima de tensão que envolve o leitor e conta com bons diálogos e uma arte linda, de Frainçois Boucq. Destaque especial para os cenários, que são incríveis.
Publicado no Brasil pela editora Comix Zone, Boca do Diabo pode até ter alguns pontos que nos incomodaram, mas entrega uma história sobre ideologias, discurso e até mesmo religião, ambientado em um mundo dividido.