De Gidalti Jr.
320 páginas
Brasa | 2021
A cultura do brega paraense é explorada e celebrada em Brega Story, obra de Gidalti Jr. que marca a primeira leva de HQs da editora Brasa. Ao longo de mais de 300 páginas, conhecemos a história de Wanderson Jr., o “rei do brega”. Apesar de manter a pose de referência musical, o cantor na verdade luta para alcançar a tão sonhada fama nacional. Machista e vaidoso, o protagonista é um homem cheio de si, que não ganha em momento algum o carinho do leitor. Em meio a um caldeirão que fervilha de tensões e conflitos junto à busca pelo sucesso, Brega Story vai crescendo e nos enlaça em uma HQ rica e instigante.
Enquanto acompanha os passos de Wanderson, o roteiro nos situa na cena do brega paraense, com suas tradições, inovações e estilo. Não há pausas para que esse lado informativo da obra floresça, o leitor é envolvido naquela história e passa a conhecer a cultura das festas de aparelhagem, os temas das letras, as performances, sem pausas didáticas. É como se Brega Story nos convidasse para passar um tempo no Pará, e fôssemos presenciando aquelas situações ao lado dos personagens.
Enquanto Wanderson é um homem deplorável, temos em paralelo outros personagens cativantes, que roubam a cena na HQ, como é o caso da dançarina e compositora Lana Varejera, a vocalista Rubi e o roadie Pitchula. A verdade é que não há mocinhos, todos têm defeitos e interesses próprios. As interações entre os muitos personagens do gibi resultam em diálogos realistas, carregados do sotaque paraense e expressões regionais.
Apesar de retratar um universo multicolorido, vide as luzes das aparelhagens, Gidalti optou por contar essa história em preto e branco, fora as curtas passagens a cores. De início, o estilo marcado por muitas linhas causou um pouco de estranhamento. Logo já nos acostumamos com a arte expressiva, mas não dá para deixar de sonhar em como seria ver Brega Story toda colorida.
Com um roteiro que surpreende, Brega Story não se limita a ser uma homenagem à cultura do brega. Esta é uma história que reflete, sim, o universo abordado, mas também o transborda em uma HQ vibrante e intensa, como seus próprios personagens.