De Guy Delisle
144 páginas
Zarabatana Books | 2021
Tradução: Claudio R. Martini
Mesmo com uma temática pouco atraente aos nossos olhos, Guy Delisle consegue fisgar o leitor, em Crônicas da Juventude. Muito pela sua maneira de contar histórias, o quadrinista desenvolve, em seu mais novo trabalho, uma narrativa gostosa de acompanhar.
O roteiro traz memórias da época em que Delisle trabalhava em um fábrica de papel, como emprego de verão. Assim, acompanhamos um jovem ainda longe de ser o autor de quadrinhos conhecido que é hoje. A trama passa pela rotina de funcionamento da fábrica, suas tarefas no trabalho, os colegas, a cultura machista presente no dia a dia e sua relação distante com o pai que, por sinal, trabalhava na mesma fábrica, como engenheiro.
Diferente de suas HQs anteriores, não há muito pra se contar em Crônicas da Juventude. É uma trama bem simples, de leitura rápida. Porém, vale destacar as discussões sobre escolhas. Conhecemos diversos personagens que lidam de forma diferente com o trabalho. Alguns parecem acomodados, outros infelizes com o emprego, também existem aqueles que procuram novos ares e enxergam a fábrica apenas como algo temporário. Por se tratar de um período, na juventude, que o autor vivenciou antes de trabalhar com animações, a HQ tem uma abordagem sobre escolhas e carreira.
Como já havíamos visto nos trabalhos anteriores do artista canadense, a HQ possui traços cartunescos. Além de tons de cinza, a obra ainda traz o amarelo como um tom de destaque.
Publicado pela Zarabatana Books, Crônicas da Juventude é uma ótima leitura. O que é curioso é que, para além da oportunidade de conhecermos um pouco sobre a adolescência do quadrinista, a HQ não teria muito a oferecer. Não há uma trama complexa, nem lições do passado. O que torna esta uma boa experiência de leitura é o talento de Delisle para contar uma história em quadrinhos.