De Ettore Scola e Ivo Milazzo
108 páginas
Figura | 2024
Tradução: Lu Vieira
Um roteiro de filme que se transformou em quadrinho, “Um Dragão em Forma de Nuvem” soa mesmo como um longa europeu. Ettore Scola convidou Ivo Milazzo para dar vida, com suas pinceladas, a essa história que nunca pôde ser filmada, protagonizada por um livreiro parisiense de meia idade.
Pierre destina boa parte de seu tempo aos cuidados de sua filha, Albertine, que perdeu os movimentos do corpo e a fala após um acidente, ainda na infância. Pouco interessado em, de fato, vender os livros, talvez mais em colecioná-los, o protagonista vê sua vida e seus objetivos balançarem depois que uma jovem passa a frequentar a livraria. Com suavidade, a trama passa a delinear o destino desses personagens e até a pregar peças nas expectativas dos leitores.
Sem dúvidas, além da arte de Milazzo, o destaque de “Um Dragão em Forma de Nuvem” está na interação entre Albertine e os acontecimentos ao redor. Embora não consiga se comunicar com os outros ao seu redor, o leitor é capaz de testemunhar seus pensamentos, muitas vezes ácidos, sobre sua rotina e a de seu pai. Esse elemento é um diferencial da HQ, enquanto, por outro lado, o contato entre Pierre e a jovem Yolande não tenha nos cativado tanto, como é o propósito da história.
Milazzo traz referências do cinema para as feições dos personagens, como bem observado em um dos textos de prefácio assinados por Silvia Scola, filha do diretor. A mais evidente, é claro, é a semelhança entre Pierre e o ator Gérard Depardieu. A narrativa visual é bastante centrada nos diálogos, com alguns cenários de Paris para compor a ambientação.
Publicado pela Figura, “Um Dragão em Forma de Nuvem” aborda com sutileza as complexidades do amor e das relações (inclusive as não românticas), explorando os desafios, os sacrifícios e os impactos que elas provocam. Sem recorrer a um final açucarado ou previsível, a história oferece uma experiência completa, envolvendo o leitor nos dilemas e nas nuances de seus personagens.