De Magô Pool
120 páginas
Veneta | 2024
Magô Pool cria uma crônica social em Bicho Selvagem, ao apresentar um condomínio de luxo apavorado por um suposto animal que estaria rondando a vizinhança. O perigo do desconhecido é o ponto de partida para uma histeria coletiva que representa um pouco daquilo que o Brasil se tornou nos últimos anos.
Em uma reunião de condomínio, moradores decidem o que fazer com o animal, embora ninguém nunca o tenha visto. Ou seja, não se sabe o que é, mas o perigo não pode ser descartado. Madames “indefesas” e homens que se sentem viris o suficiente para resolver o problema com as próprias mãos povoam a história, em um retrato crítico de uma classe média alta que se sente poderosa e ao mesmo tempo ameaçada.
O trabalho da autora é muito claro em seu poder de síntese de parte da realidade atual, através de personagens que são praticamente caricaturas. O quadrinho percorre questões sociais, políticas e ambientais através de analogias, algumas bastante explícitas. No entanto, mais espaço para situações mais sutis envolvendo esses mesmos personagens seria bem-vindo e potencializaria a acidez da obra.
Na arte, a escolha é por evidenciar a expressão dos personagens, seu modo de se comportar e o local onde vivem, embora visualmente a ambientação não seja tão explorada quanto poderia. Os cenários são pouco elaborados em boa parte do quadrinho, o que limita a construção de uma atmosfera mais rica e imersiva.
Publicado primeiro de forma independente e agora relançado pela Veneta, Bicho Selvagem é uma sátira que não tem medo de tocar em várias feridas. A interpretação é muito clara para uma mensagem potente sobre o nosso tempo e comportamentos que são mais selvagens do que que qualquer fera que possa rondar um certo condomínio.