Valongo

22 outubro 2024

De Silvana Jeha e Braziliano
64 páginas
Veneta | 2024

Valongo é um quadrinho integralmente dedicado à memória. Uma história ficcional centrada no Cais do Valongo, o lugar das Américas onde mais desembarcaram africanos. Para explicar ao leitor as marcas deixadas nesse local, hoje Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, a historiadora Silvana Jeha e o quadrinista Braziliano contam a história de Zola, uma mulher que é sequestrada e trazida ao Brasil grávida, e que tem seu filho, Maithica, no navio negreiro. A trajetória de ambos como escravizados que desembarcaram no Valongo é o que iremos acompanhar na HQ.

Como um quadrinho curto, Valongo busca ser objetivo ao apresentar os personagens e os eventos que afetaram suas vidas, figuras que representam um Brasil de outrora, ainda muito presente no Brasil de hoje. Como é possível ver nos textos de apoio, várias das decisões do roteiro são orientadas por material bibliográfico, de modo que o quadrinho seja bastante apurado historicamente, o que o torna um ótimo material didático. Apesar de os protagonistas serem pouco aprofundados, há pouco espaço para isso, é possível se identificar com eles, com seu sofrimento e sua resistência. Havia, sem dúvidas, espaço para uma história de mais fôlego.

A arte de Braziliano é um diferencial e tanto para Valongo. O artista constrói verdadeiros painéis com seu traço estilizado e elegante. Não apenas os personagens, mas tudo ao entorno ganha vida em suas mãos, com um visual fluido que é capaz de transmitir a beleza das tradições africanas, o terror do navio negreiro e a brutalidade do tratamento e dos açoites.

Publicado pela Veneta, Valongo é o quadrinho ideal para as aulas de História. Ali está uma síntese que segue à risca a palavra, mas não deixa de se ater ao fator humano. Foram milhões de pessoas, de africanos, que desembarcaram no Cais do Valongo. Suas histórias foram muito pouco contadas e, mesmo que em uma ficção, é possível encontrar os elos entre o passado e o presente, e reafirmar a necessidade de que elas não sejam esquecidas.

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