De Altarriba, García Sánchez e Lola Moral
144 páginas
Comix Zone | 2024
Tradução: Flávia Yacubian
A tragédia persegue Nivek, que desde menino se vê obrigado a viver uma vida que não deseja, para garantir sua sobrevivência. O Céu na Cabeça navega pelo mundo da dor, da luta e, por que não, da esperança. Um drama dolorosamente honesto de Altarriba, García Sánchez e Lola Moral que nos faz questionar se há futuro para alguém cujo destino foi traçado tão cedo.
Seguimos Nivek, uma criança de 12 anos que trabalha nas minas de Coltan, no Congo. Logo nas primeiras páginas, ele é sequestrado para trabalhar para milícia que defende a região. Isso desencadeia situações horríveis em seu caminho. Como alguém como Nivek pode se recuperar de tanta violência? Essa é a pergunta mais interessante que paira sobre O Céu na Cabeça.
Apesar de sua jornada como criança-soldado não se estender durante todo o quadrinho, ao longo da história, vamos acompanhar o jovem enfrentando situações diversas em sua travessia pela África. Sua viagem tem destino: Europa. O protagonista tem esperança de que um “país de primeiro mundo” possa curar suas feridas e dê um progresso em sua vida. Dessa forma, Nivek vai percorrer a selva, o deserto, conhecer civilizações e culturas e, aprender a lidar (ou não) com seus costumes. Sempre confiante em sua odisseia, mas, também, atormentado pela inocência perdida, quase fazendo o leitor esquecer que ele ainda é uma criança que não quer nada mais do que segurança e amor.
Tenha em mente que esta HQ não teria o mesmo resultado com outra narrativa visual. García Sánchez e Lola Moral brincam com a composição das páginas, a geometria e as sequências, de modo que o roteiro de Altarriba se fortalece ainda mais. Uma experimentação que impressiona, quando mostra as belezas naturais africanas, mas que também é efetiva quando precisa ser sombria e dura, destacando a crueldade das cenas ou os rostos com cicatrizes.
Publicado pela Comix Zone, O Céu na Cabeça pode ser uma leitura difícil para alguns, devido ao seu conteúdo pesado. Fácil de admirar para muitos, pela sua narrativa visual. O que não pode ser negado é seu poder devastador, que não abandona quem teve contato com essa história.