De Joe Ollman
320 páginas
Quadrinhos na Cia. | 2024
Tradução: Érico Assis
É provável que, assim como nós, você não tenha ouvido falar de William Seabrook… até que Joe Ollman nos apresentou a esse excêntrico escritor que ajudou a popularizar a figura dos zumbis na cultura popular norte-americana, no início do século XX. Em O Abominável Sr. Seabrook, percorremos desde sua infância peculiar até seu último suspiro, já consumido pelo alcoolismo para tentar compreender quem foi essa figura e sua trajetória errática.
Ollman mergulha fundo nas fontes para que não faltem detalhes ou profundidade. Tanto a vida pessoal quanto a profissional de Seabrook são exploradas igualmente, uma vez que estavam praticamente fundidas. O escritor foi best-seller com seus relatos de viagem, a começar pelo Oriente Médio, depois pelo Haiti e, em seguida, a África, em um período em que o exotismo chamava a atenção do público. Seabrook de fato vivia suas aventuras ao extremo e foi criando uma lenda em torno de si: canibal, ocultista, bêbado e sempre cercado de gente importante, principalmente outros escritores.
Devido ao interesse obsessivo de Ollman por seu biografado, o quadrinho passa por momentos mais desinteressantes e até repetitivos. A divisão em capítulos marca a produção do escritor, mas também fases da sua vida. O auge é, sem dúvidas, suas primeiras experiências de viagem, quando Seabrook estava aberto ao desconhecido, como observa o próprio quadrinista, que acrescenta suas observações em meio à narração.
A organização das páginas em 9 quadros é funcional, mas também pode ser responsável por certa monotonia em alguns trechos. Ollman abusa dos recordatórios, o que acrescenta um peso extra à quantidade de texto da HQ. Por outro lado, a arte é perfeita para a proposta, com um estilo mais cartunesco, marcado pela dominância dos tons de azul.
Para quem adora biografias, não importa de quem seja, O Abominável Sr. Seabrook pode ser uma ótima experiência de leitura. Ollman nos leva a um nível de intimidade impressionante com o biografado ao longo das 300 páginas de seu quadrinho, em uma trajetória que nos faz até entender seu fascínio por uma figura tão contraditória.