De Thomas Mathieu
180 páginas
Faria e Silva | 2021
Tradução: Aline Zouvi
Os Crocodilos apresenta uma abordagem precisa sobre o assédio e o impacto dessa atitude condenável, na vida das mulheres. Escrita por um homem, Thomas Mathieu, mas baseada em dezenas de relatos femininos que o quadrinista recebeu, a HQ representa os assediadores como crocodilos. Mas não somente eles, aqui todos os homens são crocodilos, independente se assediam ou não. A escolha é inteligente e importante, afinal, convida o leitor a se enxergar dentro daquelas situações e até mesmo a fazer uma autoavaliação.
Para homens, Os Crocodilos é uma leitura perfeita para escancarar os comportamentos tóxicos que vemos nas ruas. É também uma maneira de estimular a empatia, de demonstrar o que as mulheres sofrem, como o assédio é nocivo e por que é necessário combater esse tipo de atitude. Para as leitoras, Os Crocodilos é um apanhado de muitas histórias que nós mesmas já vivemos ou ouvimos. Ou seja, os relatos aqui são familiares. E, por mais que a realidade apresentada nesta HQ seja a da Bélgica, como a própria tradutora Aline Zouvi ressaltou, essas histórias podiam muito bem se passar no Brasil. O assédio é uma cultura universalmente danosa.
Ao longo de mais de 100 páginas, Mathieu apresenta vários relatos curtos. Em algum ponto, essas passagens acabam se tornando um pouco cansativas, afinal, as histórias se repetem: os homens continuam a assediar e as mulheres, embora reajam de maneiras diferentes, seguem sendo assediadas. Talvez esse incômodo seja proposital, para que o leitor, ou leitora, se sinta exausto(a), indignado(a).
Ao final, a obra conta com um “manual” que é um verdadeiro respiro. É a hora da ação. Tanto para homens como para mulheres, o manual traz instruções sobre como agir em situações de assédio (se você está testemunhando aquele momento, por exemplo) e, se ainda não havia ficado claro nos relatos: como não ser um crocodilo.
Uma descoberta da editora Faria e Silva, Os Crocodilos é uma obra universal, que poderia, inclusive, ser usada como cartilha. Esta é uma verdadeira ferramenta de combate ao assédio e um guia amplo para a ação (e a reação) frente a esse problema que vai além das fronteiras.