De Patrick Prugne
80 páginas
Taverna do Rei | 2024
Tradução: Renata Silveira
A estreia do quadrinista Patrick Prugne no Brasil é marcada pela mistura de inocência e malícia dos pequenos Poulbots, que dão nome à obra. As crianças pobres de Montmartre, em Paris, ficaram conhecidas dessa forma por causa do pintor Francisque Poulbot, que as tornou objeto de sua arte. Na HQ, ele é mero coadjuvante, porque quem toma conta da trama são os meninos, suas vidas difíceis e as formas que encontram para enfrentar essa realidade.
O encontro inesperado entre Jean, o filho de um promotor imobiliário, e um grupo de garotos de idade próxima à dele é o ponto de partida para uma desventura com sabor de infância. A interação entre eles é conflitante, no primeiro momento, o “burguesinho”, como o chamam, é tomado como refém. Desde muito cedo esses meninos precisam pensar em jeitos de ganhar a vida, seja com a curiosa venda de rãs ou com pequenos delitos. O contraste de realidade é chocante para Jean, mas o contato com Barbante, Tampinha, Marco, Gelatina e Manon representa é uma oportunidade de se sentir livre. De vingar-se do comportamento opressivo do pai.
Patrick Prugne dá vida a personagens muito carismáticos, que se entrelaçam em uma trama cheia de referências a artistas franceses dos primeiros anos do século XX. O desenvolvimento da HQ esbarra em situações em que é preciso um tanto de suspensão de descrença, mas se pensarmos que esta é uma aventura infantil, com todo o seu charme, é possível compreender as decisões do roteiro.
As aquarelas de Prugne retratam um Montmartre bem diferente do símbolo da boemia parisiense, ainda com atmosfera rural. Apesar de em alguns momentos os quadros parecerem um pouco estáticos, a disposição dos balões colabora para a fluidez da leitura. Destaque para o visual dos garotos, que claramente vem das linhas de Francisque Poulbot.
Lançado pela editora Taverna do Rei, Poulbots é uma bela homenagem não só ao pintor, mas principalmente às crianças que o inspiraram. A ficção criada torna o quadrinho algo que o próprio Poulbot foi “um porta voz desses moleques”.